sábado, 22 de janeiro de 2011

Areia da ampulheta

Eu sou a areia da ampulheta
O lado mais leve da balança
Balança que não me aguenta
O ignorante cultivado
O cão raivoso inconsciente
O boi diário servido em pratos
O pivete encurralado
Eu sou a areia da ampulheta
O vagabundo conformado
Sem nunca se ter reformado
O que não sabe qual o lado
Espreita o pesar das pirâmides
Cachaceiro mal amado
O triste-alegre adestrado
Eu sou a areia da ampulheta
O que ignora a existência
De que existem mais estados
Sem idéia que é redondo
O planeta onde vegeta
Eu sou a areia da ampulheta
Eu sou a areia
Eu sou a areia da ampulheta
Mas o que carrega a sua bandeira
De todo o lugar o mais desonrado
Nascido no lugar errado
Eu sou, eu sou você

Raul Seixas 

domingo, 16 de janeiro de 2011

Hey hey ningen Sucker aa ningen ningen Fucker

Nesses últimos três dias, assisti a um anime chamado Death Note. Ele parece ser bem badalado, conhecido até por pessoas que não eu poderia considerar como otakus.
É um ótimo exemplo para quebrar aquele tabu de que animações japonesas são para crianças. Existem histórias adultas, e brilhantes, tais como esta que acabei de ver.
A história é simples, mas seu desenrolar é bem complexo. Existe um caderno que, quando é escrito o nome de um ser humano nele, ele morre. Este caderno tem como real dono uma espécie de entidade da morte, que somente quem toca este caderno é que pode vê-lo.
A história é interessante, pois coloca em discussão a questão de se 'fazer justiça com as próprias mãos', e até que ponto isto pode levar. Primeiramente, o caderno é encontrado por um estudante muito inteligente, que é o aluno número 1 de todo o Japão. Logo no primeiro capítulo, ele diz coisas fantásticas. Eu tenho memória péssima, não consigo me lembrar de frases exatas... Mas ele discute consigo mesmo o poder de matar as pessoas. Assim, ele poderia se livrar das pessoas que são ruins, e que não representam nada de bom para o mundo. Ele olha em volta... e tem a conclusão de que, em realidade, são poucas as pessoas que são realmente úteis para algo.
E o que é o poder? 
O poder é aquele dado a quem o merece?
A princípio, dar um caderno a um gênio seria ótimo, afinal ele teria discernimento suficiente para escolher quem realmente deveria ter uma 'penalidade máxima' ou não. Será que teria?
O poder é perigoso. Transforma uma pessoa com um potencial absurdo num desequilibrado. Pois, o que acontece quando você tem um poder absoluto, e é contrariado. Ele se torna Kira. O Deus do Novo Mundo. Aquele que limpa o mundo dos criminosos vis que impedem que a paz se estabeleça na vida das pessoas de boa vontade. E limpa também que se colocar na sua frente. 
E quando você pensa que um gênio, surge uma igual força para detê-lo. O investigador misterioso, L. Ele enfrenta dificuldades para poder capturar essa nova ameaça, e aí começa o show.
O ponto alto dessa história é o fato do espectador poder presenciar a cena rara de dois gênios se degladiando numa espécie de guerra fria. Um prevê os passos do outros, e como o outro vai interpretar a sua próxima ação. Isso porque eles são iguais.
Outro aspecto fundamental é o efeito que isso tem na população. As pessoas vivem com medo, e de repente, os criminosos começam a morrer e as taxas de criminalidade diminuem vertiginosamente. Até que enfim, o fato de ser bom tem alguma vantagem! Então... Kira é bom? Kira é a justiça?? Mas Kira é humano e tem falhas... Kira pode ser um Novo Deus??
Vou destacar, por fim, uma coisa que parece ser fundamental para qualquer tipo de história que tente fazer alguém usar sua massa cinzenta: mídia. O envolvimento da imprensa durante todo o anime é muito presente, principalmente nos seus bastidores e na exploração de assuntos que a imprensa sente que trarão audiência. Tem um momento em que um dos canais, especializado em imprensa sensacionalista, tem um programa que parece mais uma seita televisionada do assassino Kira, e todas as pessoas que estão na tela, começam a morrer uma a uma. Como deixa de existir um 'porta-voz' do Kira, mostram que em todas as emissoras tem um programa sobre o assunto, e sempre dizendo "sou EU que sou o porta-voz do Kira, dê sua audiência para mim!!"
Bom, é isso que minha capacidade mental me permite escrever sobre o assunto. Mas tem muuuito, muuuito mais dentro dessa série. 
Só para registrar, o personagem mais especial para mim é L. 

Ele é a pessoa que eu gostaria de ser por completo... 
Um cara que vive escondida das pessoas, com uma inteligência fora do comum, com olhos de doido, roupas largadas e um apetite ilimitado por doces. Ele pode comer mais de mil barras de chocolate, pois o que ele consome de energia com o cérebro dele, não é brincadeira. Se eu fizesse isso... Obesidade. 
Enfim, ele é um perfeito representante do que é um forever alone. Fortaleceu!!!
E além disso, o carinha que fez o L no Live Action é uma gracinha. ODEIO Live Actions mas... O cara mandou muito bem e foi convincente. 

Uma coisa para lembrar de Death Note: O poder é uma coisa que deve ser utilizada com cautela, e por pessoas que saibam reconhecer o limite entre o brilhantismo e a loucura. O limite entre o certo e o errado não existe...
Uma coisa para esquecer em Death Note: Aquela cena em que Raito e L. saem da chuva e o L. se oferece para secar os pés do Raito. Achei uma coisa muito homossexual, por mais que fosse um momento crucial para a história. Poderia ter sido melhor sem essa viadagem.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A tia TV, minha babá quase perfeita

Em mais um desses dias de inutilidade total, a programação da TV me força a desligá-la, nada está valendo minha atenção.
Nos últimos meses, com toda a minha rotina, eu tinha me desligado completamente dela. Primeiro, porque não dava tempo mesmo, e segundo, porque quando ela está ligada, você perde muito tempo. Mas agora, estando de férias, sem dinheiro e com preguiça, só me restou ela.
Cara, eu adoraria contar uma história bem interessante sobre a trajetória da minha vida aqui, mas infelizmente não dá. Sou uma pessoa comum, criada por pessoas comuns em um bairro comum. Com costumes comuns. Não sou prodígio, e nem tenho gostos refinados. Se meu papai e minha mamãe não estavam em casa, quem me mantinha sentada e quieta era a querida televisão. Por isso que eu sou assim, perturbada e cheia de problemas de ordem psicológica. Mas a tia televisão fez o melhor que pôde... E eu adoro tudo que ela me ensinou.
Tudo mesmo, porque ela me mostrou mundos que eu nunca vou conhecer. Agradeço pelos programas educativos da TVE e seu Castelo Rá-Tim-Bum, até os programas impróprios pra minha idade.
Mas enfim, eu sentei na frente desse computador pra falar de outra coisa, não de histórias...
Nessas semanas em que eu fiquei (obrigatoriamente e facultativamente) de repouso, eu viciei na televisão à tarde. Esse maldito costume que te impede de ser alguém que faz alguma coisa além de comer e dormir.
No SBT, passa uma novela chamada Esmeralda. Eu tenho uma história bem curiosa com essa novela, porque eu quis assisti-la quando ela teve sua primeira exibição. Lá estou eu vendo o primeiro capítulo, quando minha mãe vem com aquele discurso de que ‘tem que ver o jornal nacional’. Existem mil jornais durante o dia inteiro, mas você tem que assistir aquele. OK. Meses depois, minha mãe vicia na novela que eu queria ter visto desde o começo. Putz, que raiva que me deu.
Esmeralda é um remake de uma novela mexicana. A original também já foi exibida pelo SBT. Tem a Bianca Castanho, que durante anos fez dobradinha com a Bianca Rinaldi como protagonista das novelas do tio Sílvio. E o Claúdio Lins como par romântico. Bom, ele é melhor que o Dado Dolabella. Sacanagem, Cláudio! Eu o acho um galã legal pra novelas tipo SBT, com carisma mediano. Acho que ele só fez essa novela. Depois, pelo que eu me lembro, ele preferiu investir mais na música, viajando o mundo com seu pai, o Ivan.
A novela está nas suas últimas emoções. Bom, como posso resumi-la?
Esmeralda é cega e pobre, e mora numa cidade pequena. José Armando é um médico filho de pais riquérrimos. Eles se apaixonam, mas aí no meio entra um cara chamado Malaver, que tem uma fixação pela pobre e doce Esmeralda. Ele faz com que todos acreditem que ele a molestou (como assim??) e que o filho que ela posteriormente tem é dele. A mentalidade machista tão arraigada nas culturas brasileira e mexicana se aflora no personagem de Jose Armando. Ele rejeita a sua mulher cega e o filho que pensa ser bastardo.
Mas Esmeralda é a mocinha!!! Algo de bom vai acontecer. Eis que ela conhece um cara que é bom com ela, chamado Álvaro. O cara, que também é médico, realiza uma cirurgia para recuperar a visão de Esmeralda e sempre a apóia. É claro que ele quer pegar a Esmeralda, e é claro que ela pensa em se casar com Álvaro por gratidão e para ter um pai para seu filho.
Esqueci de uma coisa: sabe o José Armando? Então, ele foi adotado pelos pais ricos. E quem é realmente filha deles é a Esmeralda. OI?
Uma bola de clichês. Dá pra acreditar numa merda dessas?
Pior que dá.
Precisamos tanto disso. Precisamos tanto acreditar nas coincidências espantosas do destino pra sairmos desse lugar estranho em que vivemos.
Querem ver o melhor?
No ultimo capítulo, José Armando caiu de um cavalo e quase quebrou o coco. E quando acordou, viu que estava o quê? Cego! Isso que é aplicar o conceito da alteridade, colocar-se no lugar do outro. Isso devia acontecer na vida real, isso ia ser incrível! É lógico que ele, já sabendo que o filho é dele, arrepende-se de ter desprezado sua mulher e filho. Mas só quando ficou cego, ele realmente entendeu como sua amada se sentiu abandonada e desamparada.
Ah, cara, eu sempre choro. É idiota, é ridículo, mas eu sempre choro.
Por que não fazem novelas contando histórias comuns? Realmente ‘reais’? Porque são chatas, insuportavelmente chatas.
E o engraçado é que a novela herdou algo dos contos de fadas. Parece que todos os sofrimentos valeram a pena, porque vão trazer felicidade eterna! Sou realista demais pra acreditar numa coisa dessas acontecendo na vida. Mesmo que venham felicidades, elas não substituem as tristezas, de modo algum.
Mas o clichê não é um bem exclusivo das novelas. Ora, o que é a vida? Um bando de gente que trabalha, come e dorme, porque não dá mais para fazer nada. Ou um bando de gente pseudo-antenada, pseudo-feliz, que não tem a menor noção do que vai fazer da sua própria existência.
Sabe de uma coisa? Prefiro as novelas.
Aí, você deve estar se perguntando (se é que tem alguém lendo) porque eu estou escrevendo esse bando de besteira. Bom, porque é sobre isso que eu sei escrever, sobre as coisas que eu vejo desde sempre. E porque, quando você não vive, ou não é obrigada a viver, você não tem inspiração para escrever sobre coisa melhor. A vida e a experiência te inspiram. Já fui muito mais crítica de política e de sentimentalidades, mas estou em processo de involução. Enquanto eu não for obrigada a viver novamente por aí, eu vou escrevendo essas porcarias mesmo. Só pra matar o tempo, enquanto a programação da TV não passa algo que eu queira ver...
E por que eu estou acordada?? Ora, pra ver 24 horas!! O que é meu início de ano sem meu grande Jack Bouer? Herdei esse gosto do meu pai, não aceito críticas.
Ao invés de ler esse post, você devia estar vivendo por aí. Assim, você pode criar um blog e escrever coisas mais importantes que eu.
Um abraço.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Estou sem verba para custear a minha hoax.

Mais uma vez, estou aqui olhando os créditos do "George Michael - Live In London" rolarem pela tela da televisão. A última música, Freedom 90', sempre me deixa pensativa. Eu tenho um troço com essa música, não sei o que é.
E hoje, ao ouvir uma das frases que eu mais gosto na música, ela se revelou de uma forma inesperada para mim.
É naquele momento que se diz assim:
I just hope you understand,
Sometimes the clothes do not make the man.
Sempre achei esses versos repletos de maturidade. É como se uma pessoa muito experiente, que já viu muitas coisas na vida, virasse para você um mero aprendiz e dissesse: "É assim mesmo que as coisas acontecem, eu vivi e VI!"
Menina do céu, aprenda com essa frase! A vida não é tão direta como parece.
Não é porque uma pessoa diz ser fã de Michael Jackson, que ela irá se comportar de modo a demonstrar total concordância com as coisas que Michael achava que eram fundamentais. Seria muito lindo e muito belo, mas o mundo não é assim.
Não é porque uma pessoa diz acreditar no amor, que ela vai agir com carinho e respeito para com as outras pessoas. Palavras são palavras, e atitudes são atitudes. Não se esqueça de sua época de fã de Angélica e Jaime. Quantas cobras você viu surgir num meio onde só devia surgir a esperança num amor contagiosamente belo? Seria perfeito que todas as pessoas se dessem bem e se respeitassem, mas o mundo não é assim.
Não é porque uma pessoa faz Nutrição, que ela terá a mesma visão que você sobre essa ciência. Uma ciência que, na sua visão, necessita, pede e implora por humanização. Mas o que você pode fazer se isso acabou se perdendo no meio do caminho. Seria muito inspirador ter todos juntos, num mesmo foco e objetivo, mas o mundo não é assim.
O Mundo sabe ser cruel com os frágeis. E eu, honestamente, considero-me frágil.
Nesse ponto da minha vida, com todas as possibilidades do futuro abertas, com as feridas não cicatrizadas do passado, e um presente nulo... A única coisa que posso fazer é extirpar da minha rotina tudo que não me faz bem. Na medida do possível.
Na medida do meu possível, tentar caminhar os passos que meus pés podem dar. Eles são bem curtos, eu sei, mas o que eu posso fazer?
Deixa pra lá.