A música americana nunca existiu realmente. Se existe alguma música genuinamente americana, ela seria o country e os ritmos afro-americanos isolados, blues, soul, e por aí vai. Mas falando sobre a música de exportação americana, ela morreu na quinta.
Nada de muito bom tinha surgido nos últimos anos, e a morte de Michael Jackson só vem pra marcar um ponto na história do mundo: as coisas nunca mais vão ser como antes.
Vou dizer que, quando ouvi a primeira referência sobre o fato, eu deixei pra lá, não acreditei muito, mas o fato do MTV na Rua terminar com o clip do Michael, assim, do nada, foi um pouco estranho. Até que vem a Luisa Michelleti dar a notícia oficial dos estúdios do Notícias MTV da morte do astro. E o engraçado é que só uma hora depois, ao passar o jornal nacional, eles não davam a notícia de que ele estaria morto, só falavam que estava no hospital por causa da parada cardíaca. Mas tudo bem, isso é coisa de Globo, esse tipo de suspense, que eu nem vou comentar. Prefiro acreditar que estavam esperando mesmo a confirmação da CNN.
Uma quinta de choque e uma sexta de reflexões.
Muita gente morre todo dia. Muita gente mesmo, principalmente numa cidadezinha perigosa chamada Rio de Janeiro, cujos motivos você pode ver aqui. E então, porque quando uma única pessoa morre, e ainda por cima de causa 'natural', por que há tanto alvoroço??
PORQUE É O MICHAEL JACKSON, SEU ANIMAL!
A Mtv e a indústria dos clipes não seria a mesma sem Michael Jackson.
Todas essas boybands não existiriam sem Michael Jackson.
E quando se diz que ninguém é insubstituível (frase cruel essa...), ok, ela tem valor no mundo da música.
Se não tem cão, caça com gato.
Se não tem Madonna, vai de Britney Spears.
Se não tem Beyoncé, vai de Rihanna.
Se não tem BSB, vai de N'sync.
Se não tem Ja Rule, vai de Snoop Dogg, Ne-Yo, ou qualquer coisa dessas.
E se não tem Michael Jackson? E se não houvesse essa pessoa na história da música? Hum... Só sei que se ganharia muito menos dinheiro na música, pois foi com ele que a música passou a ser um grande show, em todos os sentidos.
Tá, mas e daí? Qual a diferença que faz na minha vida que ele tenha morrido? De mudança prática... nenhuma. Mas me fez pensar que essa é uma grande estratégia da Dona Morte, sabem por quê?
A partir do momento em que uma pessoa do seu lado ou na sua vizinhança morre, e nós obramos pra isso (claro! vamos fazer o quê?), Dona Morte passa a ser banal. E ela quer ser popstar, e é fato que não podemos ignorar o seu trabalho. Daí, ao invés de cortar os pulsos pra chamar a atenção, ela leva nada mais nada menos que a segunda pessoa mais popular do mundo (só perdendo para Jesus Cristo).
E o engraçado é que metade do mundo deve estar, como eu, achando isso uma grande piada. Afinal, Michael Jackson não era imortal?
Ele parecia imortal. Sempre aparecendo nos jornais e revistas com polêmicas e bizarrices, acostumamo-nos com a sua figura atual, bizarra, estranha, envolvido mais no mundo do entretenimento do que na música, e parecia que não sairia mais dessa situação. Agora, olha como somos cruéis: fomos atacados por uma grande amnésia, parece que esquecemos de tudo que ele tinha feito de positivo e impressionante até agora.
Sentimento de obra inacabada...
O problema não é a morte. Isso acontece com qualquer um, e em grande parte das vezes não é esperada. Mas tudo bem, mesmo que ele tivesse 160 anos, sua morte nunca seria levada como algo normal, afinal esse sentimento de imortalidade está realmente no inconsciente coletivo.
O problema é que a morte vem no momento mais inoportuno possível, quando havia chance real das coisas voltarem ao normal. Ou pelo menos, que essa história teria um fim decente.
Eu fico pensando como deve estar a cabeça daquelas 750 mil pessoas que iam aos shows de Londres que começariam no mês que vem. (Um mês!) Quer dizer, iam para uma despedida, que por força maior não aconteceu.
E como deve estar a cabeça dos fãs? Eu prefiro nem pensar, porque se eu aplico a 'lei da alteridade', eu não durmo hoje.
E o pior de tudo. Seus filhos nunca viram o pai no palco, somente por vídeos, mas nunca ao vivo. O desejo de Michael era levar seus filhos na estréia dos shows de Londres para que pudessem vê-lo de volta aos palcos. Ai, cara, eu nem sei mais o que falar...
Pra você que não sabe quem é...
Pega uma horinha do seu dia e escolhe um dos setecentos e cinquenta programas que estão surgindo para falar um pouco da biografia de MJ. Principalmente os da MTV, que mesmo alguns sendo documentários bem velhos, são muitos bons.
Só pra constar, eu devo ter visto quase tudo que passou com esse assunto, só com o pretexto de convencer à minha mente e dizer que é real. Você pode estar achando estranho, até porque eu nunca disse que sou fã de Michael Jackson. E nunca fui.
E nessa história, 'quem é mau'?
Nunca fui fã, mas toda essa situação, a morte repentina e tudo que reapareceu na mídia sobre a sua história me comoveram muito.
Você pode ter achado tudo que eu disse até agora é uma grande besteira, mas preste atenção ao que eu vou escrever agora.
Com a morte de Michael Jackson, fica provado que não só o excesso de gordura na alimentação, o fumo, as causas externas como a violência são os culpados das mortes. Muita gente morre num lento e progressivo suicídio. E isso é cada vez comum.
Chega a ser injusto uma pessoa tão genial, tão importante pra história do mundo, terminar sua trajetória de uma forma tão triste, e pelas suas próprias atitudes autodestrutivas. O pior é saber que isso não foi, de forma nenhuma, sua própria escolha.
Michael tinha um câncer. Um câncer na alma, que se iniciou há muito, muito tempo. E não há dúvidas que o agente iniciador e promotor desse câncer foi seu pai. E, inevitavelmente, a própria fama acabou atacando mais uma alma suscetível.
Quando dizem que a família é o mais importante, acredite. Ela realmente vem se mostrando o reflexo da sociedade. Se a sociedade está doente, é porque a família está destruída. Famílias vem destruindo sonhos, destruindo vidas, destruindo almas. Por isso, cuide bem da sua.
Não poderia haver tema mais triste pra se tratar, mas não poderia de deixar de falar o que estava entalado aqui na garganta.
Olha que máximo o Ricky Vallen falou sobre o assunto:
(...) O que me deixa chateado é que o cara fez tanta gente feliz mas não foi feliz. Viveu boa parte da vida com um monte de abutre em cima dele por causa do maldito dinheiro.
(...) O que quer que tenha havido entre ele e aqueles meninos cujos pais o processaram, acho-o moralmente superior a esses pais. Michael é o anjo e o demônio da indústria cultural. A serpente do seu paraíso e o mártir purificador. Os talentos artísticos extraordinários frequentemente coincidem com vidas torturadas e enigmáticas. Michael era um desses talentos imensos.
Alguns trechos:
Em 2008, ao jornal britânico The Mirror, Ne-Yo (que já escreveu hits para Beyoncé) disse ter composto e enviado por e-mail diversas faixas para Jackson. "Este álbum precisa ser melhor do que Thriller. [Jackson] quer melodias matadoras. Ele me liga de volta para dizer, 'Eu realmente gosto da canção três; na quatro o gancho poderia mais ser mais forte. Na número um, mude o primeiro verso... Ok, tchau". Click. E aí eu refaço e ele gosta, 'ok, estão perfeitas. Mande-me mais."
"Michael está muito nervoso. (...) Ele sabe que as pessoas querem que ele falhe. É difícil quando todos os olhos recaem sobre ele. E há tanta competição de jovens por aí...", disse Ne-Yo.
Em 2007, Will.i.am afirmou que Jackson estava trás de novas tecnologias para o trabalho - em particular, redes sociais e download. O frontman do Black Eyed Peas, que já assinou hits para Justin Timberlake e 50 Cent, assegurou que o artista não tinha perdido poder de fogo. "Cara, ele ainda consegue cantar como um pássaro."
Até mais. Preciso terminar de baixar minha coletânea de Michael Jackson. Já ouviram falar em mea culpa?
"Eu sempre quero que a música influencie e inspire cada geração. Quem quer a mortalidade? Você quer que o que você cria sobreviva, e dou meu máximo no meu trabalho porque quero que viva"2007 - Revista Ebony