domingo, 3 de julho de 2011

Somente belas e magras, por favor.

Então.
Certas coisas no universo da nutrição me deixam muito desapontada. Às vezes, parece que estou no meio de um monte de cabeças vazias, defendendo uma ciência que nunca vai progredir e que nunca vai conquistar o status que merece, por ser constituída por profissionais que não querem estudar e não querem lutar por um espaço melhor.
Enfim.
Nestes últimos dias, ocorreu uma questão absurda no nosso mundinho. Foi aberta uma seleção de nutricionistas para trabalhar em um congresso da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN), em Fortaleza, e o anúncio pedia que as interessadas mandassem fotos e que tivessem manequim 36 ou 38.
A situação já foi melhor detalhada aqui no blog da nutricionista Neide Rego.
Pra que currículo? Pra que competência?
Porque eu, que sou uma otária e imbecil, trabalho que nem uma filha da puta em mil estágios, projetos, congressos, etc, se o que vale é ser magra e bonita?
Além dessa situação ser ato explicitamente preconceituoso, ela emerge do lugar em que necessariamente não deveria existir. Quer dizer, isso vai contra a tudo o que defendemos. Nós defendemos que as pessoas tenham uma vida saudável, mas nunca escravizamos as pessoas à padrões de beleza. A números ideais. Defendemos qualidade de vida, e não pressões midiáticas.
Se ainda não ficou claro, gostaria de declarar explicitamente o meu repúdio à atitude da SBAN. É tão vergonhoso, que é melhor nem comentar mais nada.
Na verdade, há sim o que se comentar.
Quando você pensa que a sua profissão é constituída somente por copioterapeutas e profissionais que se tornaram nutricionistas porque tiveram preguiça de estudar o suficiente pra realizarem seu sonho de serem médicos... vemos que algumas pessoas não dormem no ponto.
E um dos focos de reação que está se estruturando é o Centro Acadêmico Emílio Ribas, da USP, que já vem articulando outras resistências, tais como a discussão sobre a regulamentação da propaganda de alimentos, especialmente no meio acadêmico. Eles escreveram uma carta manifesto falando a respeito do ocorrido, e aproveitaram para comentar do tão polêmico aspecto do apoio e patrocínio de indústrias de alimentos em eventos de nutrição.
Veja a carta aqui.
Uma decepção profunda... Mas com aquela impressão de que há uma luz no fim do túnel...