segunda-feira, 16 de maio de 2011

Minhas sinceras desculpas


Nada será como é. Nada é como foi.
Não adianta o quanto você luta por amortecer certas lembranças do passado, elas sempre retornam de algum modo. Porque quando pensamos em nós mesmos, no nosso mundo, podemos sim deixar certos fatos em caixas mais guardadinhas na nossa alma. Mas acontece que o que está externo a nós não sofre essa faxina emocional.
Não importa o quanto eu queira dizer pra mim mesma que acabou, se as pessoas vão continuar me associando ao FAM. E elas não têm culpa por isso, de modo algum. Só me vem aquele sentimento incontrolável de que eu fracassei. E feio.
Ainda me dói muito não poder viver essa utopia. Foi um golpe de faca, junto de todos os problemas que tomaram a minha vida de modo simultâneo. A ferida ainda não cicatrizou, porque a emoção é sempre mais forte. Mas racionalmente falando, não devia me sentir culpada sob nenhuma circunstância, pois sei que fiz o máximo que pude. O foda era tentar chegar a um objetivo em comum e que fosse plenamente executado, o que nunca aconteceu. Falar, falar, incentivar, e quase nunca ver algo se tornando palpável e real. A tal utopia caminhava a passinhos de tartaruga e isso nunca me satisfaria.
Não fui contra aos meus princípios e ao compromisso que firmei comigo mesma. Naquele 26 de junho de 2010, eu prometi que nunca mais faria um MJ World Cry na minha vida. E eu não fiz. Este foi o motivo da minha retirada.
Fico pensando no quanto a minha contribuição foi ambígua: intensa e nula. Intensa no planejamento e formulação de idéias e ações do grupo, tentando organizá-lo e harmoniza-lo, colocando tudo de forma clara naquelas benditas atas de reunião; Fiz tudo o que podia. Mas tudo isso é completamente nulo, porque não germinei nada de útil no Amar, no Maria de Lourdes, na creche Mundo Infantil, e nos outros poucos lugares que estivemos em um ano de atuação. Você não tem noção do quanto isso é frustrante.
Hoje, vi a Lídia Jackson na Uruguaiana por uma louca coincidência e ela me reconheceu. Eu era a garota do fã-clube. É, naquele dia em que fomos com a Lídia e família ao Santa Marta, comecei minha reflexão sobre o que minha ação tinha representado na vida de todas aquelas crianças que eu tinha intenção de ajudar. E o resultado foi desolador. O que eu fiz pela Lídia até hoje? Nada, não fiz nada. Impotência é a palavra de ordem, e fico magoada comigo mesma só de pensar nessas coisas todas.
Eu parei no meu tempo. Fiquei estática por alguns segundos e foi difícil respirar. Até que eu pudesse me focar em outros aspectos da vida para reduzir os danos, custou um bom tempo. O Grupo FAM não me deu endereço nem telefone, está sem dar sinal de vida e não sei mesmo por onde anda. Respeito e amo grande parte das pessoas que estiveram no FAM, exceto uma pessoa, que se eu pudesse deletar da minha mente, eu seria bem mais feliz. Até porque cinismo já está bem old-fashioned, honey. “E que tenha até inimigos, pra você não deixar de duvidar”, diz a canção. Sinto saudades daqueles momentos, mas como deixaram muitas marcas igualmente ruins, é uma saudade de passado, que eu quero deixar bem intocada num arquivo morto. Eu sei que aquilo tudo não volta nunca mais. Nunca mais.
Ainda não me recuperei da minha falta de grana, não me recuperei da ausência das pessoas que eu amo, não me recuperei psicologicamente da minha cirurgia, não consegui ainda aceitar que o meu sonho de mudar o mundo com os sonhos compartilhados com Michael. Hoje eu sou capaz de reconhecer isso.
Por isso, estou distante. E estou me sentindo melhor assim. Minha profissão é minha vocação, minha paixão e salvação, e sempre vou ser grata à ciência da nutrição por me ajudar a reinventar minha razão de viver. Sinto que o conhecimento pode me daru forças, e me agarro a ele como se fosse o último galhinho que impede de cair no penhasco. Eu nunca vou ser uma pessoa com autoestima, até porque, pra mim, isso só existe nos livros de auto ajuda, que deveriam ser denominados “estudos de caso”, por relatarem a ocorrência de um fato muito, muito raro... Porém, esse é o único caminho que eu encontrei para viver os próximos setenta anos.
Querida Lídia, mais uma vez, desejo-te sorte e sucesso. Sua fotinho está junto às imagens de Michael, como se ele estivesse emanando sua genialidade e talento para você. Que Deus esteja sempre com você e sua família, e que a bonança nunca se afaste do seu lar. Obrigada pelo seu carinho, mesmo que eu não o mereça.
Querido Michael, sempre penso em te dizer tantas coisas, mas eu só posso te pedir desculpas, por toda essa confusão, e toda essa desilusão.
Depois de um dia como esses, só meu chá de hortelã pra tornar tudo menos pior...  

2 comentários:

Luacarol disse...

Oi Milla, quem dera se pudéssemos apagar as frustrações passadas e driblar as futuras. Só o tempo melhora as coisas não é?

Unknown disse...

Só o tempo... Ainda bem que ele existe, pra tornar tudo que hoje é tão intenso e presente em uma mera lembrança perdida no esquecimento.