segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A tia TV, minha babá quase perfeita

Em mais um desses dias de inutilidade total, a programação da TV me força a desligá-la, nada está valendo minha atenção.
Nos últimos meses, com toda a minha rotina, eu tinha me desligado completamente dela. Primeiro, porque não dava tempo mesmo, e segundo, porque quando ela está ligada, você perde muito tempo. Mas agora, estando de férias, sem dinheiro e com preguiça, só me restou ela.
Cara, eu adoraria contar uma história bem interessante sobre a trajetória da minha vida aqui, mas infelizmente não dá. Sou uma pessoa comum, criada por pessoas comuns em um bairro comum. Com costumes comuns. Não sou prodígio, e nem tenho gostos refinados. Se meu papai e minha mamãe não estavam em casa, quem me mantinha sentada e quieta era a querida televisão. Por isso que eu sou assim, perturbada e cheia de problemas de ordem psicológica. Mas a tia televisão fez o melhor que pôde... E eu adoro tudo que ela me ensinou.
Tudo mesmo, porque ela me mostrou mundos que eu nunca vou conhecer. Agradeço pelos programas educativos da TVE e seu Castelo Rá-Tim-Bum, até os programas impróprios pra minha idade.
Mas enfim, eu sentei na frente desse computador pra falar de outra coisa, não de histórias...
Nessas semanas em que eu fiquei (obrigatoriamente e facultativamente) de repouso, eu viciei na televisão à tarde. Esse maldito costume que te impede de ser alguém que faz alguma coisa além de comer e dormir.
No SBT, passa uma novela chamada Esmeralda. Eu tenho uma história bem curiosa com essa novela, porque eu quis assisti-la quando ela teve sua primeira exibição. Lá estou eu vendo o primeiro capítulo, quando minha mãe vem com aquele discurso de que ‘tem que ver o jornal nacional’. Existem mil jornais durante o dia inteiro, mas você tem que assistir aquele. OK. Meses depois, minha mãe vicia na novela que eu queria ter visto desde o começo. Putz, que raiva que me deu.
Esmeralda é um remake de uma novela mexicana. A original também já foi exibida pelo SBT. Tem a Bianca Castanho, que durante anos fez dobradinha com a Bianca Rinaldi como protagonista das novelas do tio Sílvio. E o Claúdio Lins como par romântico. Bom, ele é melhor que o Dado Dolabella. Sacanagem, Cláudio! Eu o acho um galã legal pra novelas tipo SBT, com carisma mediano. Acho que ele só fez essa novela. Depois, pelo que eu me lembro, ele preferiu investir mais na música, viajando o mundo com seu pai, o Ivan.
A novela está nas suas últimas emoções. Bom, como posso resumi-la?
Esmeralda é cega e pobre, e mora numa cidade pequena. José Armando é um médico filho de pais riquérrimos. Eles se apaixonam, mas aí no meio entra um cara chamado Malaver, que tem uma fixação pela pobre e doce Esmeralda. Ele faz com que todos acreditem que ele a molestou (como assim??) e que o filho que ela posteriormente tem é dele. A mentalidade machista tão arraigada nas culturas brasileira e mexicana se aflora no personagem de Jose Armando. Ele rejeita a sua mulher cega e o filho que pensa ser bastardo.
Mas Esmeralda é a mocinha!!! Algo de bom vai acontecer. Eis que ela conhece um cara que é bom com ela, chamado Álvaro. O cara, que também é médico, realiza uma cirurgia para recuperar a visão de Esmeralda e sempre a apóia. É claro que ele quer pegar a Esmeralda, e é claro que ela pensa em se casar com Álvaro por gratidão e para ter um pai para seu filho.
Esqueci de uma coisa: sabe o José Armando? Então, ele foi adotado pelos pais ricos. E quem é realmente filha deles é a Esmeralda. OI?
Uma bola de clichês. Dá pra acreditar numa merda dessas?
Pior que dá.
Precisamos tanto disso. Precisamos tanto acreditar nas coincidências espantosas do destino pra sairmos desse lugar estranho em que vivemos.
Querem ver o melhor?
No ultimo capítulo, José Armando caiu de um cavalo e quase quebrou o coco. E quando acordou, viu que estava o quê? Cego! Isso que é aplicar o conceito da alteridade, colocar-se no lugar do outro. Isso devia acontecer na vida real, isso ia ser incrível! É lógico que ele, já sabendo que o filho é dele, arrepende-se de ter desprezado sua mulher e filho. Mas só quando ficou cego, ele realmente entendeu como sua amada se sentiu abandonada e desamparada.
Ah, cara, eu sempre choro. É idiota, é ridículo, mas eu sempre choro.
Por que não fazem novelas contando histórias comuns? Realmente ‘reais’? Porque são chatas, insuportavelmente chatas.
E o engraçado é que a novela herdou algo dos contos de fadas. Parece que todos os sofrimentos valeram a pena, porque vão trazer felicidade eterna! Sou realista demais pra acreditar numa coisa dessas acontecendo na vida. Mesmo que venham felicidades, elas não substituem as tristezas, de modo algum.
Mas o clichê não é um bem exclusivo das novelas. Ora, o que é a vida? Um bando de gente que trabalha, come e dorme, porque não dá mais para fazer nada. Ou um bando de gente pseudo-antenada, pseudo-feliz, que não tem a menor noção do que vai fazer da sua própria existência.
Sabe de uma coisa? Prefiro as novelas.
Aí, você deve estar se perguntando (se é que tem alguém lendo) porque eu estou escrevendo esse bando de besteira. Bom, porque é sobre isso que eu sei escrever, sobre as coisas que eu vejo desde sempre. E porque, quando você não vive, ou não é obrigada a viver, você não tem inspiração para escrever sobre coisa melhor. A vida e a experiência te inspiram. Já fui muito mais crítica de política e de sentimentalidades, mas estou em processo de involução. Enquanto eu não for obrigada a viver novamente por aí, eu vou escrevendo essas porcarias mesmo. Só pra matar o tempo, enquanto a programação da TV não passa algo que eu queira ver...
E por que eu estou acordada?? Ora, pra ver 24 horas!! O que é meu início de ano sem meu grande Jack Bouer? Herdei esse gosto do meu pai, não aceito críticas.
Ao invés de ler esse post, você devia estar vivendo por aí. Assim, você pode criar um blog e escrever coisas mais importantes que eu.
Um abraço.

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