sábado, 30 de março de 2013

Da Enseada a Taquara

E terminou mais uma reunião na Fundação... Nas despedidas, ofereceram-me uma carona até a tijuca, mas como teria que pegar um ônibus com tempo de trajeto parecido, optei por ir mesmo de ônibus.
No ponto, uma senhora que aparentava ter uns setenta e poucos anos me pergunta: "Aqui passa ônibus para a Taquara?".
Taquara??? Na Enseada de Botafogo?
Transmiti o meu espanto à senhora. Ela ficou biruta, rodou pelo ponto atrás de alguma informação, sem êxito. E acabou voltando a ficar a meu lado. Fez-me a mesma pergunta, como se não tivesse acabado de falar comigo.
Disse a ela que teria que ir para a Central ou para a Prefeitura e de lá pegar outro para a Taquara.
'Mas que lugar é esse aqui?'; 'É Botafogo', eu respondi. 'Mas como a senhora veio parar aqui?'; 'Ah, eu vim junto com um casal mas eles me deixaram aqui, eu me perdi... E agora, como eu vou voltar para casa?'
Sugeri que ela fosse até a Prefeitura então, pois vinha o 457. Entramos no ônibus, e pedi ao trocador para comunicá-la quando chegasse na Prefeitura.
Fui para a parte de trás, mas não a perdi de vista. Fiquei pensando: 'devo delegar a outra pessoa que faça algo que eu deveria fazer? E mais... Essa senhora não vai conseguir pegar este ônibus sozinha!'
Uma senhora nem um pouco LOTE (lúcida orientada no tempo e espaço), andando por aí com 50 reais na bolsa (tirou o dinheiro quando resolveu que ia pegar um táxi), disse-me que queria ir a Copacabana para uma reunião de família, mas se perdeu, e atribuiu a sua confusão ao fato de ter se desentendido com uma amiga.
"Isso me deixou muito triste, quando a gente precisa de companhia, de carinho, a pessoa faz isso... Mas não tem problema, eu tenho carinho das pessoas, de vocês, daquele casalzinho no ônibus, de todo mundo"
Coloquei a senhora no ônibus e pedi ao motorista que a deixasse no Largo da Taquara, onde ela prometeu que se achava. Perguntei a rua onde morava, e soube me informar com precisão.
Só espero que ela tenha conseguido chegar em sua casa...

E se eu tivesse aceito aquela carona?

A vida é uma curiosa e intrigante rede de relações. Temos que estar atentos para observarmos os curiosos movimentos que ela pode fazer. Temos que estar atentos para nos aproveitarmos destes conhecimentos que surgem a todo momento, havendo a necessidade de se realizar somente algumas reflexões simples.
O que quero para minha vida? O que quero para a humanidade?
Fiquei olhando aquela velhinha e fiquei pensando na minha mãe.
Se somos todos habitantes de um mesmo mundo, parece ser lógico que queiramos para todos os nossos semelhantes aquilo que almejamos para nós mesmos e para nos nossos entes mais próximos.
Está na hora de prestarmos mais atenção neste mundo, que está pedindo socorro. Gente suplicando por carinho, por atenção, a que ponto chegamos!
É preciso olhar pra dentro e pensar no bem que queremos alcançar e como torná-lo realidade. É preciso olhar pra fora, irradiar o bem construído internamente e auxiliar o próximo.



Nenhum comentário: