sexta-feira, 10 de abril de 2009

Aos amigos de Angélica

Há duas semanas atrás, rolou o estresse total da minha parte, desde quando uma mulher chamada Angélica Vale, atriz mexicana de certo renome nesse país, fez um comunicado em relação a um fato que estava povoando as agências de notícias de México e Estados Unidos em seu fã clube brasileiro.

Na semana passada, eu queria postar um texto especial falando sobre tudo que achava sobre o ocorrido, depois de ter pensado com cabeça fria e tudo mais, mas não foi possível, pois comecei a fazer o tal trabalho de Nutrição Normal, que vou começar a investir mais tempo nele a partir de amanhã.

Então, somente hoje tenho a oportunidade de expressar a minha opinião, que eu ainda não sei qual é. Talvez não escreva muito pela limitação das minhas mãos, pois já digitei 14 páginas de um relatório hoje.

Só que chego hoje à noite, para olhar minha vida fora do ambiente acadêmico, e vem uma avalanche de coisas que modificam totalmente a estrutura da coisa.
E por isso não sei mais o que escrever.

Ao som de Fino Coletivo, um grupo que tem músicas que me acalmam muito, eu digo que a imagem que tinha de Angélica Vale foi se desfazendo na minha frente. Ou na minha mente. Talvez por culpa minha: talvez eu a tenha superestimado no meu cérebro, tenha esperado atitudes mais que exemplares de sua parte, e qualquer xixi fora do pinico foi um motivo grande pra que tudo fosse jogado pelos ares. Toda a admiração, toda a expectativa, todo o orgulho de ser fã de um prodígio.

Talvez esse foi o erro: ter esperado demais de um ser humano, que erra, que tem o direito de se equivocar. Mas enfim, não sei foi um erro tão grande, porque eu tinha uma espécie de margem de segurança. Ao ser seguidora de pessoas tão opostas, quanto a comportamento virtual, como Jaime Camil e Angélica Vale, eu simplesmente não aceitava que ela se mostrasse tão perfeita, e tivesse uma postura tão almofadinha. Então, em certos aspectos, eu a chamava de mentirosa, de falsa, mas tudo no bom espírito da astralidade, onde as regras são diferentes. Quanto mais ela negava (na minha interpretação, mentia), mas eu me indignava, mas no fundo gostava. Uma dose de masoquismo não faz mal a ninguém. "Vou queimar seu peito com o isqueiro", do Zéu, está aí pra mostrar isso.

Ela pediu descanso. Eu disse: mais que merecido! Agora: dois anos descansando? Acho que nem as pessoas que fraudam os laudos da previdência social para licença por doença ficam tanto tempo assim na maré calma. Isso foi me incomodando muito, porque eu não admito que possa existir pessoa mais preguiçosa que eu. E mesmo a pessoa que vos fala, com a sua preguicite aguda nata, ainda rala um pouco. Eu tenho atividade física leve, e não uma atividade de estado de sono!

E daí vieram os problemas, que não vou repetir por questões óbvias: quer saber quais são ou gostaria de rememorá-los, querido leitor, é só procurar mais abaixo os posts antigos que tratam sobre o assunto.

E depois fiquei pensando: por que tive a capacidade de julgá-la tão, mas tão mal?? Capaz de compará-la, ou colocá-la no patamar de pessoas 'zero à esquerda'? Não sei, eu fiquei pensando que, caramba, se ela não conseguia confiar no seu próprio talento, ter a consciência da qualidade do seu trabalho e do seu potencial e capacidade, e ir à luta, por a mão na massa, por que seria diferente com a vida pessoal? Se tinha uma visão conformista com a sua vida profissional, por que não o seria com a pessoal, que tem aspectos muito mais difíceis, como encontrar o amor de sua vida e ter filhos bonitos e fotogênicos?

Só que antes disso, eu tinha visto o comunicado, pensando que era subterfúgio para não responder as perguntas. E ela respondeu as perguntas. As três perguntas das três perigosas, abusantes e vitaminadas brasileiras que botaram a cara pra bater e perguntaram sem dó nem piedade sobre o delicado assunto, colocando o dedo na ferida. Mas isso também não significa nada. O fato de ter respondido as perguntas tem o mesmo efeito dúbio do comunicado: ser uma fofa que pensa sempre nos fãs; ou uma forma de não deixar os fãs influenciáveis, e tê-los por perto, pensando que o que lhes é passado de fonte 'segura'. Não entrarei nesse mérito, porque não serei imparcial.

A única conclusão que eu tomo, depois de tanto tempo repousando minha mente, e deixando minhas opiniões decantarem, eu penso que Angélica Vale não é minha diva, nem minha M. alguma coisa, nem nada. Nem meu modelo de exemplo.

Angélica Vale não tem um tio que mora em Rondônia, e morre de saudades dele, e principalmente do seu churrasco.
Angélica Vale não brincou de Banco Imobiliário com um amigo que inventava regras novas pra poder ganhar. Afinal, só ele entendia as regras.
Angélica Vale teve a sorte de não passar quase todos os fins de semanas de uns dois ou três anos num fim de mundo chamado Sepetiba.
Angélica Vale tem casa própria. Uma não, várias.
Angélica Vale não tirou uma foto com um cara vestido de Priscila da TV colosso, no dia das crianças, num lugar que hoje é conhecido como "Castelo das Pedras". Muito menos tem o CD da TV Colosso.
Angélica não ganhou um Sega Saturn e um relógio amarelo quindim hiper fodástico de um tio muito, mas muito querido, que me conhece desde que eu tinha dois anos, chegava no meio dos adultos, 'falava, falava, falava, e não entendia nada!', dizia ele.
Angélica Vale não comia sobras de massa de salgado, enquanto seu pai fazia as coxinhas e enroladinhos.
Angélica Vale não sabia as horas pela programação da tv.
Angélica Vale não ouve Eduardo Dusek, não sabe as músicas do Mamonas Assassinas de cor e salteado, e nunca ouviu sequer um sambinha do Martinho da Vila, nem um som do Tim Maia. Coitada, não sabe o que perdeu.
Angélica Vale não sabe quem sou eu, mas eu sei quem é Angélica Vale.

A avó materna de Angélica Vale não teve 15 filhos. E não os alimentou de peixe, pirão, e muita disciplina.
A mãe de Angélica Vale não foi empregada doméstica por anos, e não tem como comprovar todos esses anos de trabalho.
O pai de Angélica Vale não tinha o umbigo estufado. Não que eu saiba.
Meu pai não era humorista. Mas eu sempre ri horrores com ele.
Minha mãe não é cantora, muito menos atriz. Mas adora colocar seu CD do Marcio Greick pra tocar e cantar junto (quando eu não estou em casa, obviamente), e sabia 'Mulheres Apaixonadas' quase de cor.

E por fim, não sou atriz, nem cantora, nunca apareci na televisão. Meus pais não são ricos e não tive casa de bonecas de dois andares quando era criança. Mas sei muita coisa que pouca gente sabe, e gosto de muita coisa que pouca gente dá valor.

E por isso eu tenho o meu valor.

Depois de pensar quem eu sou, qual é a minha origem, o que eu represento pra mim mesma, vejo a minha vida e a vida de Angélica Vale e o quê? O que há de fantástico nessa história, se quem aprendeu aqui a matar um leão por dia desde cedo fui eu, e não ela? Por que admirá-la, se posso admirar a mim mesma, por ter conseguido que o poucos conseguem, como sobreviver três anos com vinte matérias e trezentas idas ao centro da cidade no curso técnico, pular de bolsa em bolsa de cursos de inglês ou conseguir uma vaga numa universidade pública, num curso de ciências biológicas?

Angélica é uma boa pessoa, trata o próximo sempre com respeito, é educada, doce e bem humorada. Mas de concreto e palpável, não sabe o que é ter uma dificuldade. Não estou subjugando ou diminuindo a importância de seus complexos de inferioridade, que seria o que aproximaria um ser normal a ela. Mas eu também tive tudo isso, e continuo tendo, até porque beleza interior não é algo que se compra em cápsulas na farmácia, e mesmo assim continuo ativa, lutando, e botei minha cara pra bater. Tive medo, mas persisti, mesmo não tendo a conta bancária, as estatísticas e as probabilidades ao meu favor.

Meu exemplo sou eu.

Meu cabelo não se arruma nem com todo o creme do mundo. Minhas unhas sempre quebram em momentos inoportunos. Uso óculos e quando burra velha, terei problemas na coluna e terei que colocar o bendito aparelho. Não tenho estilo, minha mãe compra a maioria das roupas pra mim. Minha cara lavada já diz que não sigo padrões da moda, e se tentasse segui-los por uma vez, já teria me jogado da ponte Rio-Niterói por uma depressão profunda. Não amarro os cadarços do tênis, e ando descalça na biblioteca da faculdade, quando vou com a sandália rasteira que escorrega. Mas pelo menos amo o que faço, amo o que estudo. E se tivesse hipotireoidismo, e já estivesse tomando os medicamentos, não teria mais explicação para continuar com uns quilinhos a mais.

Minha diva sou eu.

2 comentários:

Raquel disse...

Eu não sei vc, mas o meu erro foi ter achado que ela era uma pessoa que eu podia conhecer, como um dos meus vizinhos por exemplo.
Mas acho que até aí normal, costuma ser o erro de todo fã mesmo.
Quando se é fã de alguem fica difícil discernir o que é o ser humano do que é o artista. Alguns artistas conseguem passar essa sensação de que eles são diferentes e neles tudo é uma coisa só. Mas isso é impossível, qualquer pessoa surtaria e teria uma crise existencial sem precedentes!

Por isso quem tem que ter o controle somos nós. Quando ser fã começa a tirar o foco das nossas vidas do que realmente importa é hora de deixar as coisas seguirem seu rumo natural.
Uma coisa que presta que eu aprendi disso tudo foi que a protagonista da minha vida sou eu
Bonito , né? Mas além de bonito tem uma dose de senso prático que vc não imagina! ;]

Aaah, minha mãe falou que o pen drive ficou com a Bruna Marquezine
hauhsuhauhsuahs

Raquel disse...

"mas é aquilo, se eu não acreditar, quem vai? Angélica Vale? Jaime camil? "


ashuahsuahushuahushauhsuahushuahs

só vc pra me fazer rir numa segunda feira péssima dessa!