quinta-feira, 24 de março de 2011

A Barca do Caronte

No Carnaval desse ano, a Unidos da Tijuca trouxe um enredo surpreendente, sob a batuta do maestro e gênio Paulo Barros. O primeiro carro alegórico fica na história do Carnaval carioca como um dos mais bonitos de todos os tempos. Ele representava o Caronte, o nome de verdade da Dona Morte, da Turma da Mônica (lembram?). Até aquele momento, pra mim era a Dona Morte.
Ao longo daquele desfile, ele foi abordando o quanto a Morte nos põe medo, mas que, pelo menos na ficção, os heróis vêm para nos salvar. Talvez, eles tenham um papel até maior, de resgatar a nossa fé.
Enfim, um lindo carro, um lindo Carnaval. E uma boa lembrança para momentos como esse. Quando vemos que a barca da Morte está fazendo uma espécie de lotada com muita gente que vai realmente fazer falta.
Elizabeth Taylor morreu ontem, e levou consigo o único exemplar de olhos cor de Violeta. Pessoas únicas ficam cada vez mais raras, e a barca está cheia delas. Honestamente, eu não sei nada de mais sobre ela, e prefiro nem procurar informações para tornar deste post algo informativo. Para isto, existe Wikipedia. Nunca vi um filme dela, na verdade. Mas, a única imagem que me vem na cabeça quando ouço seu nome é do Natal de 1993. Elizabeth tentando levar o espírito do Natal para a casa de Michael Jackson.
"Porque eu não consigo ver Natal sem Michael Jackson, e Michael Jackson sem o Natal." 
É claro que neste momento, a imprensa já fez suas reportagens que resumem a vida e obra de Elizabeth Taylor. A estranha mania de fazer reverência quando já é tarde demais.
Do pouco que eu vi, percebo que perdemos o último exemplar, ou um dos últimos exemplares, do que é ser uma diva. Esse conceito se perdeu tanto que Madonna é diva, Lady Gaga é diva, Rihanna é diva, Beyoncé é diva.
Então eu sou diva também. Divagando na maionese. #fail
Mas isso é muito sério! Ser diva não é só ser sinônimo de elegância e beleza (como se algum dos nomes citados acima fossem exemplo disso). Para mim é muito mais que isso. Ser diva é honrar os peitos, explicando de forma bem grosseira.
É carregar dentro de si o amor, a angústia e a arte. É ser tão frágil e tão resistente. É viver os maiores pesadelos em vida e sobreviver para contar a história. É ajudar a quem precisa. É ser amiga amorosa e companheira. É ser um exemplo para uma geração. Exemplo de feminilidade e de força.
Desafio: leia os nomes de artistas que citei acima e tente encaixar nessa descrição.

Como disse a Lua para mim hoje, o ciclo está se fechando. Isso me deixa tão desolada... Tão triste, triste, que não há como se deixar vencer pelas lágrimas. A fé, que já anda tão abalada, esvai-se como areia fina entre os dedos. Há um clima de desesperança, de desespero. É ter a certeza de que nosso fim será tão trágico.
O tempo não tem piedade, e ele passa. E, poxa, esse já é um assunto tão recorrente e batido, mas não há como não falar disso. O que deixaremos para nossos filhos, em termos de exemplos e de esperança? É claro que você, Caronte, não tem culpa alguma. Esse é seu trabalho, afinal. A culpa é inteiramente nossa, que não nos ocupamos nem um pouquinho em celebrar e enaltecer aquilo que é importante. E aí, quando mais alguém entra na barca, dizemos um "Tchau, hein!", como se estivéssemos apressados pra pegar o ônibus.
Não é só alguém que morre. São todos os valores que morrem junto. Extinguem-se como micos leões dourados (não me corrijam com plurais). Aí, fica tudo tão sem sentido que a notícia seguinte à morte de Elizabeth Taylor trata da quinta vez que a Mulher Melancia vai posar nua.
Agora, vem aqui, Caronte, vamos fazer um acordo? Não dá pra trocar alguém que vale a pena ficar mais um pouco pela Suzana Vieira? Essa eu te garanto que não vai fazer falta, pode levar.
Desculpas pelo post meio esquisito, tomar café meia noite dá nisso.  

Um comentário:

Luacarol disse...

Oi,
quem não se lembra do elefante, do sorriso de menino que ela colocou no rosto dele? Quem não lembra do lindo quadro que ele deu a ela como agradecimento...
Como esquecer de uma amizade tão linda, tão leal, tão nobre... como esquecer que estamos órfãs de novo, e principalmente, como esquecer que mais uma vez, ele está mais uma vez SOZINHO.

A dor que eu sinto é de não poder curar mais esta ferida, mesmo que ele tbm saiba que Deus a queria de volta junto Dele.